Páginas

julho 05, 2012

Fingir ou sentir... Tudo e' questão de mentir, o que deveras mente...

Para Paula Baggio, que me inspirou um poemim..
Tristeza vai, tristeza vem...
Átimo de sentir...
Ocasião de fingir...
Em pouca palavra, revelar,
dizer tudo, nada omitir...
Isso, ou mentir...
Em palavra diversa, mente,
sendo escrita ocasional, mente,
mesmo que seja rara, mente...
Por trás da máscara
de intrincada metáfora
diz desalmadamente
que, em seu oficio, mente,
mente por dever,
ou por querer,
mente até mesmo sem perceber...
E, assim, descaradamente,
um poeta desmente a verdade profunda que sente,
ou pensa que sente...
Ao desfiar em meadas, palavras e frases,
uma sensível pintora
de seus escritos se faz "ilustradora"...
Ás de palavra e miragem,
poetisa de escrita e imagem
revela-se tanto mais que uma "fingidora"...
Em seu jeito de ser, singular,
dispõe em dupla dose um trabalho incrível!...
Não tão arisca como, sem alarde, caberia a um poeta,
revela bravura, coragem,
enquadra o etéreo no físico e o faz visível...
Que profunda sensibilidade!
Sem se fechar, distante,
nem se isolar em algum plano intransponível,
desnuda no real o sentimento...
O oculto transformado
em algo que aos olhos e' tangível...
Arrisca-se...
Com a metáfora visual do momento,
mostra, para além do pensamento,
o que "deveras" sente,
ou pensa que sente...
ou permite que alguém veja que sente...
E a cada risco, ou rabisco,
assim como faz com o poema,
também se apossa de alheias dores,
ou finge que as suas são as dos outros...
Carrega em costas arqueadas,
o peso do afastamento...
de uma dor, revela o movimento,
a ruptura de dois mundos que, assim, giram mais lentos,
um separado, outro desordenado,
desfazem, cada um por seu lado,
antigos e recíprocos momentos...
Em jardim encantando de cores
imobiliza a beleza das flores...
Em quadros que foi espalhando nas paredes de um solar
onde um dia aninhou o aconchego do seu lar,
imortalizou o encanto noturno,
a luz solar,
o brilho de um luar...
E' doce, meiga e acalma
a pose da menina na janela...
E' quente, aquece a alma
uma chama vermelha de vela...
Desperta sentimento antigo
um rosto sofrido,
o sorriso contido,
o velho enrugado,
seu choro escondido,
a tristeza no olhar...
Essa arte inspirada,
de mão madura e voz afinada,
me faz lembrar tantos imortais
cujos pincéis quebraram tabus,
mudaram caminhos,
criaram ideais...
a opulência gorda da fêmea,
o sensual visceral do cio,
o colorido de casas grudadas, siamesas,
natureza morta sobre as mesas...
ruas estreitas e beirais,
janelas, calçadas, telhados, e os morros das Minas Gerais...
cordões de bandeirinhas e coloridas bandeirolas,
piqueniques em parques, girassóis ensolarados,
camponeses apaixonados,
retângulos combinados,
marinas, barcos e marolas,
negras e gregas ostentando brilhantes argolas,
tudo a se tornar estilo, inspiração, motivo...
Artista que a tal oficio,
dedica dedos e mente,
a retratar, ou transmudar
em anseio pretensioso,
se expõe a desafio tamanho
tanto quanto almeja metamorfosear...
Com seu crivo exigente,
e uma perspectiva radical,
explora o velho e o novo, o brilhante e o tacanho...
Instigado por um forte interesse social,
ao defender algum ideal,
torna-se critico visceral do bem e do mal...
Das profundezas do seu olhar,
inovador, glacial, lapidar,
não raras vezes revela sentido divergente
que, para muitos, parece estranho...
Tendo a posse das suas e alheias dores,
veste-as de preto, branco, e tantas outras cores...
e qual camaleão, a se colorir do sentir,
rouba pra si a tristeza,
a alegria, a saudade,
o riso, as flores...
E parece que não se angustia
quando faz parecer sua cria
um tal sentimento, uma tal ansiedade
que em outros, com sua privilegiada lente,
em profundidade releva e pressente...
Seja por nostalgia,
sofrimento,
ou deslumbramento,
rouba a arte de uma fotografia
e inspirado nela, recria...
finge que viu, como se fosse seu o olhar original...
transforma o belo do outro, o retrato não por si retratado,
o momento por outro olhar captado,
o sentimento do outro, o roubado,
em imagem sua, seu suspiro, seu alento...
Nem por isso parece ter, desta forma de fingimento,
qualquer arrependimento...
Sobre um traço, pinta...
Sobre outro, retinta...
Em tela, cartão, ou papel
de risco em risco,
com traços de lápis, pena, ou pincel,
em um delicado esboço,
um colorido frio,
de cor pastel,
repousa solitário, o seu vazio...
Vez em vez,
faz ecoar um grito quente,
e revela um nu ardente
sem qualquer pudor
da paixão demente...
Em outro dia,
sem esconder a dor,
em toda a sua lucidez,
exibe um tal amargor
e tinge de cinza um olhar sem cor,
cabisbaixo, quase sombrio...
Seus traços firmes refletem longa viagem,
a sutileza das sombras sugere alguma amarga andança...
Uma intensa bagagem
revela tanto quanto em si mesmo ressente...
Para quem lê, ou vê,
como sempre, o que foi ali pintado,
a ilustração do sorriso, da lágrima, da vida vivida,
tudo se mostra quase imaginário...
O quadro e' bonito, ressalta-se o belo...
como sobressaem, em beleza e alegria, as cores da natureza
aos olhos deslumbrados de quem visita um borboletario,
ou um orquidario...
Ao leitor e ao vedor,
mesmo que, muitas vezes, desinteressado, distante
torna-se impossível ficar indiferente...
Na observação de alguém de fora, de um amigo, ou de um parente,
o real irreal e' re-imaginado,
e em novo roubo se re-cria, admiravelmente,
um nova semente...
Um novo sentido emerge, vivido em algum momento diferente,
talvez ate' variante visceral do astral original...
Instala-se, assim, uma reviravolta temporal,
um novo bem, ou um outro mal...
Tornada sua a cena, o vedor ressente,
na memória demente,
um vórtice do tempo, um redemoinho,
lembrança adormecida, agora desperta, recém saída da sua mente...
Em mim, Paula Baggio,
um quadro seu
tem sempre um impacto assim...
Alguns, meu olhar interessado
visitou nos ambientes das casas de Canaã...
outros, mais recentemente admirados,
foram curiosamente observados...
Visitei cada nuance,
cada imagem...
A cada relance,
cada detalhe que, tantas vezes deslumbrada,
esmiucei tintim por tintim,
me inspirou uma homenagem,
um escrito meu, especialmente dedicado...
Manifestou-se um poemim
e por algum tempo morou latente,
em processo non-finito, demorado...
Agora, por estar em estado mais avançado, semi-acabado,
e talvez por estar crescendo desabalado,
quase descontrolado,
aceito lê-lo como concluído, enfim...
Sendo escrito meu, em um formato rimado,
você sabe, já nasce nomeado,
assim, por mim e' chamado de "um outro poemim"...
Pra você, dedico com o meu carinho
este que apesar do tamanho, gigante,
você pode chamar de "um poeminho..."

Um comentário:

pessoinha disse...

Escrito entre junho e julho/2012. Alinhavado em 4-5/07... Lido pela Paula Baggio em seguida...