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junho 28, 2008

Luiz meu irmão [8mai2007]

Luiz, meu irmão, /é um poeta de além tempo...
Sua emoção, /em verso, é transbordamento.
Seu coração, /em lágrima, verte o sentimento...
Sua canção, /em sonho, torna o pensamento.
Sua imaginação, /em caminho, sem retraimento, /é desdobramento, e quer ser pressentimento...
Nunca em vão, /cada palavra sua parece oração, /e eleva o pensamento.

Amo você, meu irmão, para além dos tempos, /em todos os espaços, /para além dos limites da nossa fraterna alma.
A sua alma, meu irmão, à imagem de outro poeta, /não querendo, e nem podendo, ser pequena, /tudo faz valer a pena!

junho 21, 2008

Pois é, papai...

Tem dias que a saudade ainda dói, do seu rosto afilado, do seu abraço apertado, da sua voz rouca, da risada sonora, do olhar que entra na alma, ora amedronta, e ora acalma... Do seu braço em volta da minha cintura e da sua mão firme, segurando a minha nos ensaios dos passos de uma valsa, um bolero, mesmo um tango, você que foi o meu professor de dança, desde quando eu ainda era criança... Do seu aperto de mão, veias saltadas nas costas da mão e no braço, onde eu achava engraçado apertar, só pra ver a veia baixar e voltar... Até da tarefa de fazer os seus pés, raspar os calos que cresciam nos mesmos lugares em que crescem os meus, hoje... eu que tinha aquela incumbência (que eu não sabia o quanto era nobre!) de aliviar suas pisadas, as fisgadas que machucavam o seu caminhar calçado em botas de couro fino especiamente feitas, de cano alto... Há uns dias tirei do meu pequeno baú este escrito do dia de sua passagem, outro retalho de mim, um poemim, um guardado que marcava, no fundo de mim, o término da sua presença física, talvez mesmo da sua companhia, nesta viagem... Transcrevo prá acalentar o sentimento... É que a sensação de sua presença ao lado de mim tem sido tão forte... Sinto você acompanhando os passos que ando, parece que amparando quando me vê tropeçando... O apoio firme de seu braço, mesmo quando o sinto um tanto trêmulo, afasta meu tremor, e me tira o cansaço...

Pois é, papai... [1992, 23set]
Tantas frases, / histórias, memórias /passado distante, passado presente / jogo do futuro, incógnita!!
Se eu soubesse / se a gente soubesse / que tanto que se fazia, que se doia, /que se tornava em novas histórias...
Riso contido, lágrimas escorrendo / por dentro, roendo, / findando...
Nós, meu pai, querendo que fosse apenas mais uma de nossas velhas conhecidas histórias...
Sobre nós sabemos nós. / Sobre você, que chamamos senhor, soubemos devagarinho, / pingo a pingo, gota a gota, daquele seu sofrer...
E crescemos, meu pai... / Como você pôde, ainda, trazer um espaço prá nosso crescimento, / assim, / tão no fim...
Um dia, quem sabe, / a gente faz um pouco daquilo que, no seu entendimento, / era um sonho a buscar.
Mas, saiba, / se para isso você passou por aqui, construiu sim um elo entre nós / até o seu fim nos aproximou...
Quem sabe, um dia / a gente consiga chegar /onde você enxergou
Vamos tentar... / Fique por aí, torcendo, esperando. / Vamos ligar, / cada dia, cada hora.
Observe... Vamos tropeçar... / Você sabe, não é?
Mas estamos por aqui, tentando... A nosso jeito... talvez você ache bem feito!
Sabe que até ouço seu riso?... satisfeito?

março 26, 2008

retalhos de um bar [23jan98]

Som ou tom? Mudo ou surdo?
Surdomudejando... desejando!!!
Vozes, copos, som fundo do mundo, ou som mudo do surdo?
Copo, som, vibração cor do tom...
Now that you're near tomorrow'll be too late, is't too much to be fate?
it's now or never... or w'll it be ever never late?
Som atabaque... achaque? Vibra coração!
Aqui ou nunca? Agora, ou lá onde... não sei não!!!

março 12, 2008

garimpei... achei! [12mar08]

Hoje, encontrei completa uma poesia de Fernando Pessoa que busco há exatos quatro anos. Foi donde minh'irmã caçula tirou uns versos pra uma lembrança do primeiro aniversário da sua neta. No imã de geladeira, a carinha de olhos bem abertos, o sorriso de bebe feliz e o verso inspirado ficavam a instigar uma busca (é preciso garimpar a obra poética, encontrar aquela poesia!). No enquanto, monto em retalhos outro canto...
Como jotacristo / que em Pessoa até foi rima / amo as crianças e não entendo de finanças... / Mas, menos que isto, / heureca! tenho biblioteca... / Lugar onde fujo de mim, e me escondo... às vezes até me encontro... / Nos livros que li, em lendas e contos, / tanta fantasia, e muita poesia... / Em Pessoa me encantam a palavra enredada, / o começo e o fim, a idéia em tranças... / seus arranjos do tempo, veredas pro meu pensamento... / Sem perceber são horas que passo a ler e reler... / como se aos mundos do Poeta eu fosse volver... / Assim foi que agorinha / topei com a tal obra prima, / liberdade do cancioneiro era a própria, / a tão procurada...
Transcrevo pra quem quiser re-conhecer mais uma do Pessoa, em ironico modo de ver... (será bem vindo qualquer complemento, por exemplo, a tal citação de Sêneca que estaria faltando).
Liberdade [Fernando Pessoa / Cancioneiro] (Falta uma citação de Sêneca)
Ai que prazer / Não cumprir um dever, /Ter um livro para ler /E não o fazer!
Ler é maçada. / Estudar é nada. / O sol doira /Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal, / Sem edição original. / E a brisa, essa, / De tão naturalmente matinal, / Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta. / Estudar é uma coisa em que está indistinta /A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma, / Esperar por D. Sebastião, / Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças... / Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca / Só quando em vez de criar, seca.
O mais do que isto / É Jesus Cristo, /Que não sabia nada de finanças /Nem consta que tivesse biblioteca...

momento de mim [sd]

Antenas ligadas, / narinas abertas, / poros molhados, / coração acelerado.
Olhos acesos, / mãos frias, / ouvidos antenados.
Respiração ofegante, / orelhas levantadas, /sombrancelhas erguidas, /cabelos arrepiados,
Testa franzida, /andar agitado.
Perna, pra que te quero bamba?
Que sucede de tão invisível, indizível? / Que coisa é que sem se ver, sabe-se?
Algo no ar está por acontecer... / Será bom? Será o que?
Sinais no corpo, / sensação é de urgência.
Boca seca, num instante, / noutro, a saliva / toda intensidade...
Vazio no estômago, / suspiro. / Ansiedade!

associações livres [22fev03]

Linhas tortas, / não mortas / pança, balança / quebro, requebro /morto, absorto.
Carinho, ninho. / Moinho, caminho.
Poema em linha reta. / Pessoa, poeta
Mistério, sério. / Careta, sorriso
Piso, teto, reto, torto... / De novo torto, / mas não morto.
Vivo, aceso, fogo, vela... / Chama, reclama.
Balança, pança. / Praça, poço, moço.
Papo cabeça. / Moço, poço, fundo.
Balde, sem rima. / Obra prima!

o ser e o nada [22fev03]

Hoje sou mais ou menos... / menos mais do que menos.
Hoje sou pouco, / sou nada. / Não sou? Ou ainda sou?
Ontem fui menos, mais ainda. / Chorei sem saber onde ficar... / pensei em sair do meu lugar / fiquei parada, imobilizada. / Ontem fui pouco ou quase nada.
Não sei se posso estar aqui / ou se devo andar outros caminhos. / Não há escolhas quando o rumo é o beco sem saida.
Quem já fui? Quem ainda sou? / Será que já fui algo? Ou o sou? / Hoje não sei se sou, ou se serei.

a dor de amar [21fev03]

aprendi que amar / tem tanto de alegria / quanto de dor
tem menos de receber / e muito de dar / tem o sofrer / além do sorrir...
Amar tem diferentes modos de ser... / todos despertam fogueiras, / acordam temores, / não deixam dormir.
Amar e dar, o um e o outro, paixão... / Amar e dor, o outro, o ter ou não ter...
Amar sofrer, temor do fim... / Amar sorrir, calor e paz... / Amar amar! o amor, o ser...