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novembro 30, 2011

Era pouco mais que 5 da tarde! (24/11/2011)

Minha mãe se foi hoje ao final da tarde... Era um pouco mais que 5 da tarde... Uma tristeza sem dimensão, uma sensação incongruente! Ficar em paz e' preciso, navegar e' preciso, neste viver impreciso...

Para sempre, mamãe!

Sempre gostei desta poesia Para Sempre, do Drummond... Em mim, resta a certeza de que mamãe e' para sempre, aqui em nosso pensamento, e no cosmos de energias supremas! Ah! sou tão pequenina, migalha do grão de milho, mas se eu tivesse poder sobre o mundo baixaria uma outra lei: mãe não sofre dor nem cansaço da vida, nunca, nunca...!

PARA SEMPRE (Carlos Drummond de Andrade)
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Dentro de mim a dor do poemim...

Ando devagar, sem pressa, não vou atropelar meu passo...
nunca fui de saltar etapas...
Em algum lugar ficou meu sorriso,
esperando que eu ainda vá chorar demais...
certeza quase nenhuma, só que tão pouco sei, ou nada sei...
Ainda longe de me sentir mais forte,
buscando coragem pra voltar a ser feliz... quem sabe?
E' que hoje me sinto qual sanfona...
ora abro o pensamento pras melhores lembranças, a continuidade e celebração da vida...
ora fecho o coração em duas semanas de sofrimento...
Preciso voltar ao passo de viver e não ter a vergonha de ser feliz...
Como ao amanhecer, em mim
um musgo espera o primeiro raio de sol...
Crisálida encapsulada, há uma borboleta em mim...
uma espera do meu momento...
abrir asas ao vento,
enfim...
Nada soa tão bem assim,
parece longe o começo do fim,
anda ainda sem fim
A dor do meu poemim...

novembro 08, 2011

Palavra escondida

de vez em quando venho aqui, quase a sapear
como se meus não fossem estes retalhos...
passo tempos apenas a olhar
como se nada houvesse pra costurar...
passa o tempo e eu a descrer...
alguma colagem minha vale a pena ler?
a colagem que faz esta colcha é um eterno in-completar...
em escritos do passado
muitos retalhos sem lugar,
outros tantos já recortados
sobram ainda sem coser...
minhas linhas de costurar andam a se soltar,
palavras alinhavadas
nas beiradas
em fiapos a se desfiar...
faltam laçadas
pra rematar...
ao coser pontos com tanta cautela
perco o momento, apaga-se a vela...
foi-se a palavra...
algures se esconde o não-poema...
da ponta dos dedos escoa um verso absorto,
outro morto!
torna-se vão o quase-escrito
mero rabisco...
coleciono retalhos pra nunca serem colados
não-seres amorfos, em mim enfurnados...
até quando, ensaios frustrados?
parca palavra, tua rima tão fraca não vale um florim...
se ao menos tivesses um aroma de alecrim...
ou fosses da cor da flor, vermelha, rubra, tinta feito carmim
se tivesses o gosto doce do mingau de aipim
de um bom-bocado, ou de um deguste de quindim
ou o sabor inesquecível de um grelhado de surubim
se fosses tão forte quanto uma tora de angelim
se riqueza mostrasses qual um palácio de mandarim
ou em lágrimas caísses como no rosto do arlequim
se voasses qual acrobata saltando em mortais de um trampolim
se ao menos viesses amendoada como se fosses nascida em Pequim
ou voasses majestosa correndo os céus qual zepelim
ou soasses qual melodia dedilhada em um bandolim
ou ritmasses qual a batida do tamborim
ou tinisses qual o chamado madrugador de um clarim
ou brindasses aos bêbados surdos bamboleantes no balcão de um botequim...
ou fizesses tal alarido qual jogadores de pebolim
se ao menos trouxesses em eco fiel, do meu olhar um verbatim
ou se qual parasita, algum sinal deixasses de teus ocultos rastros de chupim
(se ao menos curasses minha dor dorsal como tão bem faz a tintura de rosmarim)
(ou carregasses a mim, qual no oriente se leva alguém importante num palanquim)
se viesses qual mágico gênio, servindo a mim como a Aladim
se voltasses em mesma rota qual tartarugas, baleias e filhotes de pinguim
se viesses a mim qual se eu fosse o Pan, invocando a fada pirlimpimpim
talvez te enrolasse qual faço no prato com uma garfada de talharim
ou te encaracolasse qual meu cabelo feito em rosquinhas de pixaim
e prendendo-te assim te usaria cada letrinha tintim por tintim
talvez até te publicasse num folhetim...
palavra sutil
se irrequieta corres de mim, qual um moleque, um curumim
se foges arisca, ao menos não sejas hostil,
bem sabes, não posso deixar-te assim
desaparecer
até te perder...
perder-te seria o fim...
melhor ver-te vez ou outra tal qual um outrossim...
perder-te é o mesmo que perder a mim
no esconde-esconde do meu poemim...
(novembro,7, 2011)

novembro 07, 2011

Minha amiga poetisa

Tão bom ter escritos de Ana Cecilia de novo em minha pasta de arquivos recebidos... e lidos...
Inspirada amiga, as palavras que se desenrolam de sua escrita fazem reflexos no fundo de meus olhos... Tantos entrelaçamentos em múltiplos significados de viver sentir amar sensibilizar.
Amo ler sua poesia. Gosto de ver as palavras se desenrolando enrolando o pensamento em mil redemoinhos de sons e signos. Se fosse comida seria da mais bem temperada saborosa poesia!
Que coisa boa ter alguém como minha amiga Ana Cecília, pra me dar este prazer da leitura de palavras sensíveis!
Quero mais!
Quero as não lidas, as não blogadas, as recém saídas da ponta dos dedos...
(novembro, 7, 2011)