Páginas

novembro 08, 2011

Palavra escondida

de vez em quando venho aqui, quase a sapear
como se meus não fossem estes retalhos...
passo tempos apenas a olhar
como se nada houvesse pra costurar...
passa o tempo e eu a descrer...
alguma colagem minha vale a pena ler?
a colagem que faz esta colcha é um eterno in-completar...
em escritos do passado
muitos retalhos sem lugar,
outros tantos já recortados
sobram ainda sem coser...
minhas linhas de costurar andam a se soltar,
palavras alinhavadas
nas beiradas
em fiapos a se desfiar...
faltam laçadas
pra rematar...
ao coser pontos com tanta cautela
perco o momento, apaga-se a vela...
foi-se a palavra...
algures se esconde o não-poema...
da ponta dos dedos escoa um verso absorto,
outro morto!
torna-se vão o quase-escrito
mero rabisco...
coleciono retalhos pra nunca serem colados
não-seres amorfos, em mim enfurnados...
até quando, ensaios frustrados?
parca palavra, tua rima tão fraca não vale um florim...
se ao menos tivesses um aroma de alecrim...
ou fosses da cor da flor, vermelha, rubra, tinta feito carmim
se tivesses o gosto doce do mingau de aipim
de um bom-bocado, ou de um deguste de quindim
ou o sabor inesquecível de um grelhado de surubim
se fosses tão forte quanto uma tora de angelim
se riqueza mostrasses qual um palácio de mandarim
ou em lágrimas caísses como no rosto do arlequim
se voasses qual acrobata saltando em mortais de um trampolim
se ao menos viesses amendoada como se fosses nascida em Pequim
ou voasses majestosa correndo os céus qual zepelim
ou soasses qual melodia dedilhada em um bandolim
ou ritmasses qual a batida do tamborim
ou tinisses qual o chamado madrugador de um clarim
ou brindasses aos bêbados surdos bamboleantes no balcão de um botequim...
ou fizesses tal alarido qual jogadores de pebolim
se ao menos trouxesses em eco fiel, do meu olhar um verbatim
ou se qual parasita, algum sinal deixasses de teus ocultos rastros de chupim
(se ao menos curasses minha dor dorsal como tão bem faz a tintura de rosmarim)
(ou carregasses a mim, qual no oriente se leva alguém importante num palanquim)
se viesses qual mágico gênio, servindo a mim como a Aladim
se voltasses em mesma rota qual tartarugas, baleias e filhotes de pinguim
se viesses a mim qual se eu fosse o Pan, invocando a fada pirlimpimpim
talvez te enrolasse qual faço no prato com uma garfada de talharim
ou te encaracolasse qual meu cabelo feito em rosquinhas de pixaim
e prendendo-te assim te usaria cada letrinha tintim por tintim
talvez até te publicasse num folhetim...
palavra sutil
se irrequieta corres de mim, qual um moleque, um curumim
se foges arisca, ao menos não sejas hostil,
bem sabes, não posso deixar-te assim
desaparecer
até te perder...
perder-te seria o fim...
melhor ver-te vez ou outra tal qual um outrossim...
perder-te é o mesmo que perder a mim
no esconde-esconde do meu poemim...
(novembro,7, 2011)

Nenhum comentário: